Assis - O amanhecer de São Francisco

Assis - O amanhecer de São Francisco 

O lugar em que nasce um santo é sacro pela mera constatação de que o berço em que ele é embalado será crucial para depreender posteriormente quem ele se tornará, além disso é impossível destituir tudo de uma certa simbologia.

Portanto é de suma relevância realçar que São Francisco não apenas desponta como um raio de sol sobre a verdejante colina de Assis, contudo se ergue para irradiar a sua fulgurante luz e eventualmente entardece sobre a mesma, embora a sensação de acalento persista através dos séculos como uma memória do porquê temermos as trevas que se esgueiram em males perversos.

O seu ciclo inicia e finda em Assis o que intensifica o vínculo entre homem e terra fazendo com que a sua história se mescle de tal maneira com a sua morada que a definição de uma se confunda com a outra, por fim, as fronteiras se fazem vagas e cada pedra ou rastro sobre o chão servem como páginas de um livro que a humanidade deveria se inteirar.

Algo hoje é evidente: não existe Francisco sem Assis e nem Assis sem Francisco, por isso que é simples narrar a sua vida através dos monumentos de Assis como, por exemplo, a sua casa terrena onde ele lançou as sementes de seus ensinamentos para germinar e até na atualidade colhemos o que Francisco arou e plantou.

Primordialmente, deve-se retornar ao seu lar, ou melhor, de seu pai Pietro di Bernadone um burguês que enriquece com o comércio o que transparece em sua opulenta residência cuja localização central denota conveniência, mas também poderio.

Nesse local, São Francisco surge sobre o nome de Giovanni (João em português) devido a preferência materna e apenas decorridos alguns anos, ele iria assumir a nomenclatura pela qual iria ser imortalizado.

A razão ainda é controversa, todavia uma das teorias diz que ele recebe a nova alcunha, porque após uma viagem à França ele se encanta com toda a cultura francesa e o pai impressionado lhe chama de "francesco" que significa "francês" em italiano, entretanto esteja tal anedota condizente ou não com a realidade é incontestável que será como Francisco que a santidade recairá sobre os seus ombros para que ele carregue a opressora sociedade medieval como Atlas, conquanto não interprete o seu dever como uma maldição, mas antes como uma benção de conferir a visão para aqueles que acometem a cegueira espiritual.

Contudo antes da sua epifania, ele desfrutou de uma juventude desregrada em que usufruiu dos prazeres mundanos de Dionísio que não são os mais satisfatórios, entretanto o caráter célere faz com que seja perniciosamente fácil se entregar aos supramencionados, afinal basta o verter de sua criação para que o prolixo mundo se transforme em uma imediata diversão.

A humanidade é um antro de vícios e Francisco tinha uma índole extravagante, bem como fundos pecuniários para comprar todos, portanto aprecia festas, indumentárias em voga e seus numerosos amigos, pois era muito bem-visto, porém de sobremaneira as aventuras que defronta, já que nutria uma paixão pela ideia de se transformar em um herói como aqueles com que se familiarizou nos romances de cavalaria.

Tendo isso em vista, ele se alista para o exército quando eclode uma disputa contra Perúgia, contudo sucintamente Francisco é mais habilidoso na arte da paz do que na arte da guerra, então não tarda a ser capturado e é mantido como cativo durante todo um ano.

Mesmo liberto, ele sofre com doenças contraídas durante o encarceramento, no entanto ele convalesce e sonha com um suntuoso palácio em que é encaminhado por uma misteriosa voz ao adentrá-lo Francisco se depara com infindáveis armas resplandecentes e uma bela donzela que após ser indagada lhe responde que tudo pertence a ele e seus soldados.

Embevecido pela perspectiva de glória, logo parte para se juntar ao exército papal que travava uma guerra, entretanto durante o caminho ele vivencia outro sonho em que escuta lhe perguntarem: "Quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo? ‘’ Francisco como se tacitamente assegurando que o senhor, em seguida, ouve o replicar da mesma voz: "Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?" Já aturdido Francisco pede que lhe esclareçam o que se espera dele, ao passo que a voz o instrui: "Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste".

Assim selando o início da sua sacra transformação, bem como a predestinada união com a sua terra natal, mas como já disse tudo o que contei é apenas o começo da sua jornada que continuarei adiante.

Por ora, paz e bem.

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