Palácio de Queluz – A Versalhes portuguesa erigida sobre a terra de um defensor da Espanha

 Palácio de Queluz – A Versalhes portuguesa erigida sobre a terra de um defensor da Espanha

       

        O nascimento do Palácio de Queluz em 1747 é o último contributo da extravagante época cultural portuguesa, a remanescente maçã de ouro que é recolhida do Jardim de Haspérides, algo que ainda se relaciona com a descoberta do opulente ouro na colônia além-mar.

        Mas, primordialmente é relevante realçar que o Palácio de Queluz se encontra mais remoto da capital em um recanto mais reservado que antes de pertencer a Casa de Bragança foi propriedade do Marquês de Castelo Rodrigo, quando a Península Ibérica se funde frente o dilema sucessório português.

     Uma união que jamais foi pacífica, porque chagas históricos não conseguem sarar devido a um despótico decreto e desde que D. Afonso Henriques conquista o Condado Portucalense delimitando uma nova pátria independente que não se curva perante o antigo domínio existem conflitos e rivalidades entre os vizinhos que rosnam entre si. 

        Várias são as figuras controversas que recebem divergentes julgamentos dependendo do prisma que esteja regendo o tribunal como, por exemplo, Egas Moniz um ilustre nobre que se rebela contra a autoridade castelhana que servia e acolita como aio e confidente o seu próprio pupilo a ascender heroicamente ao poder, ou seja, um valente guerreiro português, todavia concomitantemente um intriguista traidor castelhano. 

        Igualmente Fernão de Magalhães padece de tal ambiguidade, já que, para os espanhóis ele é o célebre navegador a desbravar por absoluto os temíveis mares através da circum-navegação pela instável morada de Poseidon, enquanto para os seus compatriotas portugueses persiste estigmatizado sobre a figura do inescrupuloso homem que se vende para a coroa espanhola colocando o próprio sonho em detrimento da lealdade ao primeiro lar. 

        Ademais, sempre existiu uma rivalidade entre as duas potências que no auge do prestígio através do Tratado de Tordesilhas partilham a humanidade, algo que faz com que os irmãos ibéricos, logo soem como uma variante contemporânea do notável mito em que os três grandes irmãos Olimpianos que são Zeus, Poseidon e Hades também repartem entre si todo o mundo. 

        Entretanto, por mais que os irmãos ibéricos estejam dispostos a segmentar a moradia certamente a mesma harmonia não se aplica a torná-la comum a ambos o que suscita a Guerra da Restauração em que Portugal triunfa e retoma a independência com a sua nova dinastia denominada Bragança.

        Como se pode deduzir, aqueles que apoiaram o deposto rei espanhol tiveram as suas posses, títulos e qualquer outro bem confiscados. Entre os prejudicados por esta medida está o supramencionado Marquês de Castelo Rodrigo fazendo assim com que a sua herdade pertença a Dinastia Bragança.

        A sua arquitetura suntuosa provoca comparações com Versalhes, embora haja quem diga que o Queluz é mais requintado do que magnífico, contudo é incontestável que ambos se respaldam na extravagância cada um segundo as próprias particularidades.


    O Palácio de Queluz é impactado durante a sua construção pelo terremoto de Lisboa de 1755 que encoraja ideias e conceitos inovadores que são personificados no monumento, pois o agouro de que poderia haver outros temores confere uma inédita preocupação para os construtores que produzem edifícios longos e baixos, ao invés de, um único bloco alto que seria um empecilho a estabilidade.

    A frivolidade arquitetônica reflete a vida de seu morador que nesta altura é D. José I que desfruta despreocupadamente do seu Olimpo, enquanto a capital Lisboa fervilha em impasses e problemas que aparentam ser irreais de seu paraíso pessoal alheio ao caos terreno. 

    Porque, deposita confiança em seu favorito o Marquês de Pombal que apreciando a liberdade para gerir a crise conforme a própria percepção incentiva a família real a delegar o seu poderio para ele, enquanto aproveitam longinquamente do conforto régio.

    No entanto, ele não consegue cativar a filha do rei D. Maria I que lhe dispensa reunindo para si o poderio que até então o mesmo monopolizava. A ativa rainha, portanto, logo transforma o palácio de Queluz em um aprazível refúgio que recorre para repousar dos tumultos citadinos.

        Ao seu dispor havia além do palácio em si também os seus ilustres jardins que apresentam tudo de mais primoroso, ou seja, terraços, estátuas, fontes e até uma cachoeira artificial. Merecendo especial destaque os canais, onde complexas procissões aconteciam em embarcações em que a tripulação entraja vestes alegóricas, se bem que somente a distinta composição do canal dos azulejos, onde as milhares de peças perfeitamente se emaranham para retratar as paisagens marinhas, já justifica por si só a sua existência como arte.

        Em síntese, o Palácio de Queluz é estonteante seja em sua arte silvestre ou arquitetônica, já que, ambas resguardam uma parcela vital da história.

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Comentários

  1. Post que nos enriquece com detalhes sobre a construção e existência do Palácio de Queluz Lindo e histórico que além de fazer parte da história de Portugal tem profunda ligação com a história do Brasil.

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  2. Eu só conhecia o Queluz como moradia do nosso D. Pedro, adorei descobrir mais sobre esse palácio

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  3. Que legal, trazendo curiosidades novas para um lugar conhecido

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  4. Finalmente um lugar que já conheço kkkkkk. Adorei

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  5. Interessante e bem explicado, gostei

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  6. Achei muito legal que todas estas histórias e personagens são mostrados de uma forma rápida e interessante

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    1. Fico feliz que tenha gostado, estou preparando mais escritas para compartilhar.

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  7. Adorei o texto.
    Parabéns.

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  8. Realmente lembra muito Versalhes.

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    1. O que não é coincidência, porque Queluz é inspirado em Versalhes

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  9. Lugar lindo, com seus jardins e muita história.

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  10. Mais uma joia portuguesa.

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  11. Muito bom, um show de cultura e arte, parabéns. 🥰

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