A mulher palaciana - Poema

Quando não sou musa, sou monstro

Quando não petrifico, sou petrificada

Chamam-me Medusa, pois rebati

Então, calei e consenti

Áurea estátua, pintura eternizada

Mas, por fim, quem sou?

Uma moça de Lesbos disse que posso criar

Posso ser poetisa ou sacerdotisa

Mas, como enfoque de um singelo ode

Restrinjo-me ao limiar da porta

Onde finjo contemplar quem pode adentrar

 

Depois, revestida em cristal, sou amada

Mesmo assim, é brutal ser venerada

Porque, quando no aposento eu entro

Em cortejo, eles se rastejam

No entanto, cautela

 Já que, sirvo somente em tela

Se eu me rebelar, ninguém hesitará em me consertar

A voz feminina inflama todas as chamas

Pulcra é aquela que não reclama

 

Não mais bruxa, sou guerreira

Convidada a lutar

Por isso, sou vista e ouvida

Enfim, provida de vida

O que mais almejaria?

O palacete cerrado finalmente é compartilhado

Comemoramos os direitos conquistados

Uma moça de Méricourt já me dizia que aos fracos nada pertencia

Todavia, ainda assim sou esquecida

Outrora, uma conquistadora

Atualmente, uma mera invasora

 

Não pretendo recuar somente avançar

Porque, conquanto declamem que não

A memória da vitória assegura que sou digna

Alguns se olvidam, portanto duvidam

Alguns compreendem, portanto intervêm

Invariavelmente, penso que o palácio é partilhável

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