Le Hameau de la Reine – O recanto rural no entorno de Versalhes

 Le Hameau de la Reine – O recanto rural no entorno de Versalhes

O complexo palaciano de Versalhes é egrégio tanto devido a própria exuberância de requinte quanto em virtude de todas as vicissitudes que as Moiras históricas incitam ou protelam aqui. No entanto, apesar de todo o fiar longínquo nem tudo se restringe ao magnificente Palácio de Versalhes, embora ele seja o cerne de onde efluía todo o poderio régio. 

Considerando que existem outras edificações e estruturas que se difundem pelos oitocentos hectares da obra-prima de Louis XIV que ergue o Olimpo moderno em um horizonte a ermo, logo transformando um subúrbio ordinário de Paris no âmago do suprassumo da autoridade europeia.


Não obstante, o acréscimo mais destoante de tal arte faustosa é incorporado em um pretérito mais recente, quando se evoca o outrora distante do resto, aliás, por meio de uma célebre figura igualmente insólita cuja existência controversa ainda não encontra nenhum consenso universal.

Ela é um mártir que sucumbe pela exacerbada fúria popular que a contempla através de um prisma em que a coroa se confunde com o indivíduo na qual repousa, contudo também uma frívola perdulária ou mesmo uma caprichosa intriguista segundo a concepção aristocrática francesa que Mirabeau apuradamente capta na misógina sentença ‘’ o rei tem apenas um homem com ele e é a sua mulher ‘’, enquanto é uma mera omissa formosa de acordo com a sua lendária mãe cuja sagaz insensibilidade provinda da pragmática posição de governante, logo a faz inapta para desvendar a aptidão artística da filha que simplifica tratando como uma alma melindrosa. 

Entretanto, conquanto ela não interceda politicamente pela Áustria como a Maria Teresa julgava peremptório para o legado da Casa de Habsburgo, na realidade, a Marie Antoinette sempre foi uma indesejada forasteira.

Em suma, malgrado esteja destinada ao trono francês, ela é uma estrangeira e eis cá o pecado capital do qual ela jamais seria absolutamente absolvida. Mesmo assim, talvez se ela conservasse essa mácula velada conquistaria maior comiseração, mas tal qual a mãe, ela se revela obstinada e prefere instaurar respeito ao invés de compaixão.

Le Hameau de la Reine é uma idealização da austríaca e depreendendo que tal epíteto não aspira enobrecer a rainha, por conseguinte, intitular a sua criação pessoal de Pequena Viena outrossim é uma injúria, além de particularmente uma falácia.

Tendo em vista, que Le Hameau de la Reine é essencialmente antagônica a tudo que lhe precede, porque deve convergir com a desarmonia que a própria idealizadora nutre pelo artificial âmbito em que está inserida. Afinal, por mais que se empenhe para se adequar a realidade áulica, a rainha Marie Antoinette é imperiosa em demasia para abdicar do livre-arbítrio em prol de prolixas máximas que alguns, como a senhora que ela apelida de Madame Etiqueta, se subordinam a tal intensidade que, logo regulam a sua vida mediante o código de etiquete com o devotado fervor que os beatos confiam a Bíblia sagrada.

Sendo assim, palavras amoladas e indumentárias pomposas são punhais e armaduras com que ela se arma para sobreviver, portanto é lógico que o seu refúgio seja uma oposição a todo ostensivo âmbito artificial que de uma maneira sufocante lhe circunda.

Na verdade, Le Hameau de la Reine é uma vila bucólica inspirada na mentalidade iluminista que resguarda a simplicidade natural manifestada na escrita de Rosseau. Porque, enquanto o Palácio de Versalhes é conscientemente esplendoroso e quase divinal, logo cá se esforça para ser singelo, ou melhor, uma exposição utópica de uma vila francesa perfeitamente campestre como o devaneio de um artista que conhece o campo através de uma galeria de arte sobre a natureza.

Em síntese, o interior rural é recriado no pátio de Versalhes e independentemente de ser uma reprodução fiel ou deturpada, pelo menos, permitia que a rainha Marie Antoinette utilizasse um leve chapéu de palha para olvidar que em sua cabeça ainda pesava a coroa.

Link para conferir Ópera de Gelo, o meu novo romance histórico.


Comentários

  1. Muito surpreendente nem imaginava haver um lugar assim em Versalhes

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  2. Parabéns, adoro conhecer coisas novas

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  3. Parabéns, escritora Victória te acompanho sempre!

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  4. Versalhes é mesmo surpreendente!

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  5. Impecável....parabéns

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  6. Outro trabalho maravilhoso, escritora

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