Café de Flore – O encantador recanto intelectual de Paris

 Café de Flore – O encantador recanto intelectual de Paris

A vigorosa bebida amargada intitulada café é apresentada para a França através do Oriente onde o néctar se proliferou entre os muçulmanos que vetados de todos os fascínios alcoólicos de Dionísio devido ao dogma religioso, logo se comprazem com o próprio vinho em um prazer desprovido de qualquer espécie de corrosiva culpa.

Além de ser logicamente um vício mais frutífero, porque enquanto o álcool degrada a consciência tornando-lhe tão transtornada que o dependente é um mero espectro distorcido do singelo outrora, o café atiça a mente forjando em meio a chamas a sua mais erudita e perspicaz variante.

Então, eis cá a razão para que os pensadores se amparem apaixonadamente nele, ao passo que a alta-roda lhe estima em virtude do deleitável sabor exótico que cativa a todos e se alastra outrossim pelo Ocidente.

Pintalgando a capital francesa os atraentes cafés compensam a carência de imponência em recantos de discreto encanto que são hábeis para captar a alma do transeunte, pois além de saborear o pungente vinho da Arábia que deliciosamente terebra a língua dormente, também se espera que proporcione um acalentador ambiente onde as centelhas das mentes fervilhantes se transformam em incandescentes labaredas em que, apesar da altercação, todos triunfam.

Essa pormenorizada descrição, malgrado generalista, é precisamente apropriada para o Café de Flore erigido em 1880 pelos dois irmãos, Louis e Émile Martin, e cravejada na boêmia bulevar de Saint-Germain.  

O Café de Flore é nomeado em homenagem a deusa romana Flora cuja estátua já ornamentava os pândegos arredores, se bem que o vindouro tempo consagraria a nomenclatura como assaz adequada por outro motivo. Afinal, entre uma pujante chávena de café e um prazenteiro doce folhado, logo germinam as mais esplêndidas ideias fruto dos intelectuais e artistas que se refugiam tanto em seu acalentador estabelecimento quanto no inebriante produto.

Compensando o seu estimado valhacouto com a sua ilustre presença, porque célebres personalidades como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Ernest Hemingway ou mesmo Pablo Picasso cedem um fragmento da sua alma para decorar o histórico mosaico do Café de Flore.

Sendo assim, visitá-lo é mais do que uma aprazível aventura gastronômica, mas igualmente um descontraído encontro com os sábios do pretérito.

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