Paris para mim - O lar do monstro da Revolução Francesa

 Paris para mim - O lar do monstro da Revolução Francesa

A Revolução Francesa é sobretudo uma conquista humanitária, quando um farol se soergue das enlameadas trevas do absolutismo para sinalizar para toda a humanidade onde a fomentada evolução se assenta. Propiciando que cada centelha solitária ainda à deriva na vastidão do obscuro mar da ignorância, logo navegue para onde a utopia é um desígnio cobiçado ao invés de uma sátira burlesca.

Não obstante, nem os iluministas que acendem as labaredas e muito menos aqueles refugiados visionários que se resguardam na França possuem algum controle sobre a própria realização, ou seja, tudo desde a nascente liberdade até os insólitos direitos adquiridos são de absoluto domínio público a fim de que cada extraordinário conhecimento ou ideia bruta seja lapidado pela sociedade, no entanto, além das virtudes, também existem os vícios e o mesmo preceito se aplica a tal.

Recordemos, que a revolução é o acumulo de uma miríade de revoltas que rodopiam no vórtice central, isto é, mesmo que se descreia da contundente afirmativa de Jacques Mallet du Pan ‘’ A revolução é como Saturno, ela come os próprios filhos ‘’, logo é inevitável considerá-la um ser imperioso que age de acordo com a própria mentalidade ignota para o bem e para o mal.

Como celeremente se apercebe o médico e político francês Joseph Guillotin que se consagra na história mundial ao propor a criação da guilhotina como uma maneira de democratizar a elitizada morte algo que aparenta um absurdo, porque já estamos inteirados do desenlace, contudo algo muito plausível ao dispensar o anacronismo.

Tendo em vista, que até o vigente instante a pena de morte era condicionada pelo crime e posição social, portanto enquanto hereges eram queimados, falsificadores monetários fervidos em um caldeirão ou um simples larápio tinha todas as suas articulações quebradas em uma roda de madeira antes de ser esquartejado ou enforcado, os nobres podiam optar por sucumbir pelo machado ou a límpida lâmina da espada, talvez para que através da morte mais digna já atalhassem comodamente para o paraíso que os fidalgos estavam convictos que já lhes pertencia. Sendo assim, a guilhotina seria a concepção da justiça que é severa, mas não cruel algo que soaria misericordioso para quem já escutou os gritos agonizantes da tortura que prenuncia a morte.

Entretanto, Guillotin olvida que mesmo a mais original criação, quando em prática baseia o seu funcionamento no conhecido pretérito, por isso quando o agredido ascende não há outra linguagem para proceder que não a agressão que apreende como o agressor e eis cá a primordial razão para que a guilhotina seja não mais do que um monstro sanguinário, ou seja, um Minotauro que indiscriminadamente se alimenta no labirinto de Dédalo em que está aprisionado, ou melhor, na Praça da Revolução em que está afixado.

Precisamente, o mesmo lugar em que no outrora estivera uma régia estátua equestre, logo é utilizado para assassinar seu filho. Em suma, transformamos a morte em algo tão vulgar que serve de recreação geral, por conseguinte, desvalorizamos a vida também, já que, a morte nada mais é do que a finalização de uma existência, destarte a morte é a contraparte da vida, por isso não pode existir uma sem a outra e, logo é impraticável injuriar apenas uma essência da dualidade, mesmo assim, as exibições populares de assassinato persistem gerando entretenimento em vez de remorso.

Então, ilustres ou infames figuras tais como Marie Antoinette, Madame Roland, Du Barry, Lavoisier e Danton entre tantos outros recebem o mesmo fim, após experimentarem existências tão divergentes até que tudo se extingue com Robespierre, o exímio idealizador do nomeado período do Terror, que perece pelo monstro que o próprio populariza. Assim finda um capítulo tão ambíguo do livro da raça humana consequentemente a Praça da Revolução é rebatizada mais uma vez para se adequar a vigorante atualidade.

Link para conferir Ópera de Gelo, o meu novo romance histórico.

Comentários

  1. Muito interessante, tantas pessoas conhecidas que receberam o mesmo fim trágico. Emocionante!

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    1. Muito feliz que tenha considerado essa curiosidade tão interessante quanto eu

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  2. Nunca parei para pensar o porque da guilhotina ter esse nome, gostei da curiosidade

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  3. Parabéns, escritora Victoria amando cada detalhe minucioso!

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  4. Maravilhoso, um dia conhecerei! Então, já estarei bem informado! Parabéns

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