Os dilemas de um espartano - Conto
Os dilemas de um espartano - Conto
Eu
sou um espartano. Talvez em outros lugares como Atenas, seja preciso
complementar a biografia com uma descrição mais pormenorizada que abranja
aptidões, desejos e sonhos, mas aqui tudo que se precisa saber sobre um
espartano é que ele nasceu em Esparta. Este simples infortúnio ao qual estamos
completamente sujeitos ao acaso do destino, logo decreta todo o resto que se
passará com o desventurado.
Eu desprezo Esparta, embora constate
o seu esplendor. Aqui as flores são vermelhas, cor de sangue derramado. Aqui as
crianças clamam por proteção e, ao invés disso, são arrancadas do seu lar para
serem espancadas em um impiedoso treinamento espartano denominado agogê. Aqui
os nossos heróis desfalecem na guerra e renascem na forma de gloriosas estátuas
que servem de exemplo para o dedicado adulto e a temerosa criança. Aqui existe tradição
e obstinação, por isso Esparta permanece firme como um ultraje a civilidade. Por
todo sentimento de inadequação que me domina, eu adoraria trilhar outro caminho
e eu até consigo fitá-lo, apesar de ser fantasioso e de não me atrever a
contá-lo para ninguém. Mas, a ideia de me libertar de todo pecado que me
impregna é simplesmente tentadora demais para eu abdicar por completo,
consequentemente, conservo em segredo a intenção de me tornar um curador, em
vez de, um assassino como se espera de mim. Eu tenho um vago estratagema para
conquistar o que anseio que se trata de me tornar um aprendiz de Hipócrates, um
homem muito em voga, porque milhares lhe procuram pela sua cura e eu também
quero rogar para que ele convalesça a minha alma, porque estou convicto de que
serei realizado na presença de uma figura que não ceifa vidas, entretanto, pelo
contrário, as conserva, aliás, eu só percebi como é bela a arte de curar ao
escutar sobre a fama que procede este herói.
Mas, antes de tudo, irei ver a minha
mãe, pois é raro encontrá-la em casa devido ao árduo trabalho militar com que
se ocupa e, depois da morte do meu pai as suas visitas se tornaram ainda mais
esporádicas. Chego em nossa imponente habitação, em seguida, subo a escada e
encontro frente à porta uma mulher com vestes militares jogada ao chão. Ela
fedia a bebida e balbuciava palavras sem sentido, ou seja, a mamãe está promovendo
mais uma das suas esplêndidas festas e, apesar de abominá-las, empurro a porta
que se encontra aberta. Assim vejo o caos instaurado com várias pessoas conversando
e bebendo e, vez ou outra, ecoava pela casa um sonoro ‘’ por Esparta! ‘’, porém
nem consigo averiguar tudo que ocorre, porque um senhor barbado, após conferir
com os próprios olhos o meu mirrado corpo ressumado, comenta com rouquidão.
— Pelo jeito hoje teve agogê. Aproveite-o, porque quando tu estiveres arrostando um soberbo ateniense será a tua força e treinamento espartano que fará eles recuarem de volta para as suas muralhas, teatros sagrados e ridícula democracia que adoram.
Uma mulher desgrenhada que emanava
repulsa como se a mera menção a Atenas revoltasse todo o seu ser, logo
complementa irada com a sua mirada fulgurante.
— Nós não precisamos de muralhas, nós somos a nossa própria muralha, somos Esparta!
Esta mesma mulher abre um sorriso ao
ver a minha mãe se aproximar com mais uma cicatriz desta vez uma que recortava
os seus lábios, e complementa bajuladora.
— Estou contente que este teu filho não se mostrou inútil como o outro não achas, Íris?
A
minha mãe assente alheia ao assunto já eu, por outro lado, fico transtornado
pelo destrato que fazem da morte do meu irmão e, logo brado ‘’ cale-se ‘’ para
a mulher que me lança um olhar mortal, enquanto a minha mãe me arremessa contra
a parede e cravando as suas unhas em minha pele me empurra até a rua. Quando saímos,
ela estapeia a minha face e esbraveja já antevendo o motivo da minha reação.
— Tu não tens motivo para te ofender, pois o teu irmão nasceu aleijado, ou seja, sem valor para Esparta, sem poder lutar pela sua terra e assim Esparta o ajudou ao atirá-lo do monte Taigeto, pois evitou a desonra de anos mais tarde, ele vir a ser um estorvo.
Em
meu pranto, desabafo para lhe arrancar algum amor pelo próprio filho.
— Como tu deixaste que Esparta o assassinasse? Ele era valioso para nós.
Ela de soslaio só reforça que ‘’ nós somos Esparta ‘’ me deixando sozinho com uma voz retumbante que esclarece que eu posso ruir por Esparta que me ofereceu só sofrimento, ou seguir Hipócrates que me oferta a desejada redenção e também a paz que almejo e se antes eu tinha alguma dúvida pelo que iria optar, ela se dissipou com o tapa que me confere um rubro para a alva face.
Lindo conto , emocionante faz com que estivéssemos dentro da história.....
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ExcluirConsegue enternecer com uma dilema tão comovente, apesar de remoto
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ExcluirEstória gostosa de ler, ótima escrita, faz com que desejemos mais.
ResponderExcluirEstou feliz que tenha gostado!
ExcluirComo um entusiasta da história e de uma boa história, estou duplamente feliz
ResponderExcluirMuito grata por isso e espero te enternecer em outros contos também
ExcluirO desprezo maternal é capaz de surpreender qualquer um...
ResponderExcluir👏
ExcluirHistória incrível em um passado glorioso
ResponderExcluirAlegre que também te agrade. Sou apaixonada pela Grécia Antiga.
ExcluirComovente e nada mais!!!!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirConto interessante com aula de história
ResponderExcluirGrata! Eu sempre tento conciliar estas minhas duas paixões
ExcluirGostei de como deu vida a um tempo tão remoto
ResponderExcluir❤️
ExcluirEu amo a Grécia Antiga e acho que captou perfeitamente a sua aura
ResponderExcluirEu também e estou feliz por ter conseguido transmitir este entusiasmo!
Excluir😘
ResponderExcluir❤️
ExcluirAmei!!!
ResponderExcluirObrigado
ExcluirParabéns, fiquei viajando pela história e com gostinho de quero mais.
ResponderExcluirGrata!!!
ExcluirLinda história grega.
ResponderExcluir❤️
ExcluirA mágica Grécia, amo.
ResponderExcluirTambém!
ExcluirAmei a história.
ResponderExcluirGrata!
ExcluirQue país cheio de histórias a Grécia.
ResponderExcluirSou fascinada por todas
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