Sintra e os seus castelos — Vestígio do domínio mouro que se torna o símbolo da reconquista

Sintra e os seus castelos — Vestígio do domínio mouro que se torna o símbolo da reconquista


        Os castelos de Sintra são preciosas amostras do outrora que podemos ler tal como qualquer outra narrativa, por isso quando me delongo sobre as milenares pedras do Castelo dos Mouros, consigo distinguir os diferentes períodos históricos de suas respectivas lendas preservadas pelas densas e exuberantes florestas da Serra de Sintra, que não permite o avanço da modernidade que se alastra por todo o resto do mundo, por vezes, com o ímpeto atroz que o Império Romano destinava para subjugar os povos que cobiçava o território. 

        Algo, que a finada Lusitânia pode comprovar, quando esbraseou sobre a cruel fúria romana, após os lusitanos oferecerem amplo respaldo militar para o visionário estrategista cartaginês Aníbal que recorre a esses pelo seu legado guerreiro. Afinal, a acentuada velocidade e vanguardista astúcia dos lusitanos conseguia desconcertar a conservadora e langorosa legião romana.      

          Entretanto, apesar do estratagema ser eficaz toda a operação malogra, embora esta primeira semente de indignação bárbara tenha sido fundamental para transparecer a humanidade do Império Romano tão suscetível a erros e derrotas quanto qualquer outro.

        Acredito que certos lugares não possam ser despidos do seu manto lendário sem que haja uma significante perda histórica, portanto sempre penso ser pertinente narrar a honorável história do Castelo dos Mouros respaldado pelas lendas que lhe cercam, como fantasmas obstinados que não abdicam de seu lar.

        No remoto ano de 1147 antes da América ser o mais fugaz devaneio, já existia o Castelo dos Mouros, então conhecido como mais um alcácer e consequentemente havia também sangrentas disputas entre cristãos e muçulmanos.

        Eles entraram em acordo acerca de um armistício para que ambos os povos pudessem preservar o respectivo ouro rubro dentro de si, embora os cristões ainda empunhassem as suas espadas e os árabes as suas cimitarras, eles experimentaram uma atípica concórdia nesta Meca do Ocidente.

        Todavia, o célebre Afonso Henrique — primeiro rei de Portugal — não consente com o vigente acordo de convivência mútua, portanto enceta uma preparação para o ataque porvir. Ele providencia uma retirada segura para os eremitas que lá moram e segue com o seu estratagema tendo a plena certeza de que os templários já sabem de antemão com o que irão se deparar nesta torre da fé islâmica, ou seja, com alguns sábios morabitos (asceta mahometano) que viviam apartados do almedino vilarejo que se contempla do cume, onde está o Castelo dos Mouros.

        Contrariando todas as expectativas, quando eles enfim alcançam o castelo lhe encontram vazio e a sacra Mesquita desprovida de todos os seus artefatos sagrados. Não há uma vivalma e nem mesmo o piar dos pássaros, tudo está a ermo o que impugna a inerente conduta humana de lutar pelo que considera ser da sua posse, afinal os mouros conservavam uma cultura milenar neste venerável receptáculo que subitamente se torna oco.

        Mas, o olhar de águia de alguém, talvez do Grão-Mestre Gualdim Pais, logo percebe por entre a espessa névoa característica da serra um vulto muito humano para ser tido como uma mera ninfa perdida.

    A sua anciã aparência celeremente destina um dúbio sorriso aos templários para quem entrega a chave antes de enveredar para os sinuosos adarves que estimava como o próprio lar, sendo assim, engolido pela neblina que preza pela finalização pacífica de tudo, ele desaparece como se tivesse se mesclado ao ambiente, quiçá para permanecer, onde sempre pertenceu. Ele que nomeamos de o último mouro de Sintra.

        Pelo menos, assim reza a lenda. Pessoalmente, ela me agrada, porque um lugar tão especial necessita de uma ‘’ conquista ‘’ igualmente extraordinária.

          Ademais, há a existência de uma lenda que defende que na cisterna se encontra enterrado um requintado sarcófago de bronze e prata que pertenceria a um rei mouro, ele seria protegido por uma implacável horta de gênios, criaturas muito amadas pela tradição religiosa islâmica.

    Tardiamente, no reinado D. João V que encomenda um relatório desta área, se descobrem pedras preciosas no enigmático mundo subterrâneo de Sintra, algo que pode fortalecer a tese defendida pelos antigos geógrafos árabes.

    A história do Castelo dos Mouros é completamente singular e apaixonante seja vista pelo viés mitológico, histórico ou um pouco de ambos, por isso creio que a única verdade acachapante que se pode chegar é que se trata de um passeio imperdível.

Link para conferir Ópera de Gelo, o meu novo romance histórico.


Comentários

  1. Passear em Sintra através dos relatos da escritora Victoria é fascinante e imperdível pois envolve turismo recheado de histórias!!! Parabéns!

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  2. Conhecia o Castelo dos Mouros, mas desconhecia muitos dos fatos aqui trazidos. Parabéns à autora do texto.

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    1. Fico muito feliz, porque o Castelo dos Mouros possui tantas histórias e todas merecem ser conhecidas!

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  3. Admito que prefiro cidades modernas, mas agora gostaria de conhecer este antigo castelo

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  4. Parabéns!!! Lindo texto

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  5. É impressionante como cada ruína na Europa tem história

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  6. Puro ensinamento .....adorei

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  7. Sintra é encantadora.
    Parabéns pelo texto.

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  8. Sintra, lugar imperdível nos arredores de Lisboa.

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  9. Os castelos de Sintra encantam os visitantes.

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  10. Um lugar encantador entre a serra e o mar português.

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